Entre os dias 01 a 03 de junho de 2022, a Biblioteca Pública Municipal João Brandão – Tábua promoveu a IX Tábua de Leituras, presentando o público com um conjunto de iniciativas que traduzem múltiplas formas de ler, desde a leitura de livros, passando também pela “leitura de fotografias, de quadros, espaços e paisagens”, conforme frisou a Dra. Ana Paula Neves, Diretora Técnica e Bibliotecária desse espaço.
Este evento tão marcante no panorama cultural concelhio é o ponto de partida para a minha reflexão pessoal acerca do ato de ler: um exercício tão essencial à formação do ser humano que tem perdido o seu encanto e magia, havendo cada vez mais pessoas que leem menos por prazer e mais porque têm de ler.
Esta realidade é deveras preocupante, visto que, apesar de a luta contra a redução do analfabetismo e iliteracia em Portugal estar a melhorar, os resultados definitivos dos Censos 2011 evidenciam que havia, à data, ainda cerca de 500 mil portugueses que não sabiam ler nem escrever, quando organizações internacionais e nacionais, como a União Europeia, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Plano Nacional de Leitura (PNL) conferem à leitura um papel preponderante paras o desenvolvimento da sociedade e capacitação de cidadãos autónomos, conscientes e críticos.
De facto, ainda que a informação nos chegue de forma abundante e incessante, muito devido ao contacto instantâneo e permanente com os meios digitais e as redes sociais que transformaram as nossa vidas e facilitaram o acesso à mesma, tal não significa que este fluxo de informação seja devidamente filtrado e compreendido pela maior parte da população e, sobretudo, de forma mais alarmante, por parte dos jovens, que estão a substituir, já há muito tempo, a leitura mais “tradicional” de contacto físico com livros, jornais ou revistas por uma leitura mais online, na forma de chats, notícias ou sites que respondem de modo mais rápido às suas necessidades práticas quotidianas.
E o problema reside justamente nesta questão: É preciso ler, sim, em qualquer formato, de forma livre, mas sobretudo ter consciência que saber ler implica saber ler bem, compreendendo a mensagem veiculada para processar a informação escrita na vida quotidiana.
Dada a importância da leitura para a formação e para a plena integração na sociedade de qualquer cidadão, é essencial encontrar formas de suscitar hábitos de leitura nas crianças e jovens. Este desiderato compete a todos os intervenientes no processo educativo, começando logo no pré-escolar, envolvendo os docentes das várias disciplinas, responsáveis pelas bibliotecas escolares e os pais e encarregados de educação, pois só assim será possível, no futuro, capacitar os portugueses com hábitos de leitura e competências de literacia imprescindíveis à sua vida pessoal, escolar, profissional e ao progresso económico, social e cultural do país.
Mas como cumprir este objetivo fulcral? Torna-se necessário promover nas escolas uma “Educação para a leitura” que mobilize os alunos para a capacidade de selecionar conteúdos ajustados ao seu desenvolvimento, interesses e necessidades pessoais. É preciso dar às crianças e aos jovens o exemplo do que é ser leitor e esta tarefa implica tanto os educadores como os pais no estímulo aos hábitos de leitura e que essas atitudes proativas sejam disseminadas pela sociedade, pois tal como referiu Nelson Mandela (ativista e político), em 2005, “ Hoje, uma das tristes realidades é que pouquíssimas pessoas, em especial jovens, lêem livros. A menos que encontremos formas imaginativas de resolver esse problema, as futuras gerações arriscam-se a perder a sua história.”
Prof. Carlos Campos