Ricardo Cruz tomou posse como presidente da Câmara Municipal de Tábua, há pouco mais de sete meses, e traça como principais desígnios da sua presidência a melhoria da qualidade de vida dos tabuenses e o rigor financeiro. A garantir que “os compromissos terão que ser honrados”, o autarca tabuense assume que a sua equipa tem vindo a adotar uma “dinâmica bastante agressiva” para “compensar algum tempo, que se possa ter perdido”.
Notícias de Tábua – Como olha para o atual momento do concelho de Tábua? Este é um mandato de continuidade ou de alguma forma pretende seguir outra linha, mais disruptiva?
Ricardo Cruz (RC) – Temos que perceber que cada mandato é um mandato, independentemente dos presidentes, de quem está frente das autarquias. Não seria correto se não dissesse que, obviamente, há sempre aqui uma transição, numa linha de coerência, com projetos que já estavam em carteira, porque apesar de tudo, temos dois elementos que transitam do anterior executivo. E, todos esses projetos são de alguma continuidade. Portanto, temos um misto de continuidade nalgumas áreas e temos um misto de cunho pessoal, de cada um dos novos elementos do novo executivo, para que possamos balizar aquilo que são os nossos objetivos para quatro anos. Temos uma dinâmica bastante agressiva, no bom sentido da palavra, porque queremos compensar, numa ou noutra área algum tempo que se possa ter perdido. O que sempre dissemos aos tabuenses, na altura das eleições, é que a nossa equipa tinha uma grande vantagem, que era a de que não iria perder tempo com os dossiês, porque já estava por dentro deles. Daí a palavra continuidade, a que se somam as palavras de dinamismo, modernidade e responsabilidade do novo executivo.
RBN- Apresentou, este ano, na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) a nova marca turística “Tábua, Encanto das Beiras”. Nesta área quais são os objetivos do Município?
RC – Estamos a dar passos largos naquilo que é a consolidação da marca. Antes de chegarmos à imagem de marca, temos que perceber os serviços que temos. Para convidar o turista, temos que fazer o nosso trabalho de casa, que é criar condições e ter algo para visitar. Neste momento, Tábua, do ponto de vista das unidades hoteleiras já está bem posicionada e tem uma boa oferta, com um hotel de quatro estrelas, turismos rurais de qualidade e alojamentos locais. Tem outras áreas também como pensões e residenciais, ou seja, já tem uma grande oferta em termos daquilo que é o alojamento, que é um fator preponderante. Depois temos também a oferta de três percursos pedestres, em que se somam duas grandes rotas. Lançámos, recentemente, a reestruturação do trilho de Vale de Gaios e com bastante potencial com 17 KM.
Destacamos também a recuperação da via romana da Pedra da Sé e, portanto, estamos aqui já a somar, toda uma área em que se ganha escala. E ganhando escala, temos que dar mais um passo que é definir uma imagem identificativa do nosso concelho, que designámos de “Tábua, Encanto das Beiras” e que divulgámos na BTL, criando uma estratégia ainda mais forte de dinamização e de atração de públicos que possam ficar no nosso concelho, tendo em consideração as mais valias do queijo Serra da Estrela (estamos já com o projeto, em paralelo, da queijaria comunitária), do vinho do Dão, dos produtos endógenos como o azeite, o pão porque Tábua também é conhecida como terra de padeiros.
NT – Desde que tomou posse, o Município tem dado a conhecer os vários projetos em curso, tendo mesmo inaugurado no dia 30 de março, a Pista de Atletismo Mário Pinto Claro. É esta dinâmica de trabalho feito que pretende ver associado ao concelho?
RC- Sim, uma dinâmica não pela quantidade, mas mais pela qualidade. Desde o início do mandato, nestes últimos meses, tivemos o cuidado e a felicidade de inaugurar uma biblioteca escolar na escola básica de Mouronho, no Dia Internacional da Cidade Educadora, que é uma aposta na descentralização.
Tivemos já a inauguração da Pista de Atletismo, um desejo bastante antigo. Recordar que o Estádio Municipal de Tábua está criado desde 2001. Houve aqui um empenho muito grande para concretizar a pista. Tivemos o cuidado de a inaugurar num dia em que tivéssemos um evento Mega Sprinter, que é ligado à educação, para dizermos que a pista não é só para atletas de alta competição ou daqueles que podem chegar lá, é de todos. Envolve que todos os miúdos da escola a possam frequentar e utilizar, assim como todo o cidadão comum em horários pós laboral. Inserido numa estratégia global onde Tábua se insere como Município Amigo do Desporto, o nosso desígnio é incentivar a atividade física e o combate ao sedentarismo.
E, no passado dia 10 de abril, Dia do Município, inaugurámos o CULTIVA, que é um edifício destinado e orientado para as startups, o teletrabalho e o coworking. Estabelecemos uma ligação com o Instituto Pedro Nunes (IPN), para que possamos alavancar mais aquela entidade, também ligada ao ensino profissional. É todo um cluster orientado para o emprego, empreendedorismo e os novos nómadas digitais.
A estratégia do nosso território de baixa densidade não é apenas fixar e atrair novas pessoas, é sobretudo dar qualidade para que elas possam ficar e atrair novos públicos. Queremos atrair pequenas e médias empresas.
NT – Qual é exatamente o grande desígnio como presidente da Câmara Municipal de Tábua?
Ricardo Cruz – Divido em duas áreas: melhorar a qualidade de vida dos tabuenses e consolidar as contas e apostar no rigor financeiro.
O desafio é a aposta na modernização e a disponibilização de meios para a promoção do emprego, para que as pessoas possam continuar em Tábua, fixar-se e não sair. Na área específica do aumento da qualidade de vida, nós dividimos entre o que é a promoção do emprego e a criação de incentivos e estratégias com o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) no sentido de criar um parque urbano, para que as pessoas possam fixar-se. Aqui insere-se a conclusão do Plano Diretor Municipal (PDM) e a possibilidade de medidas de reconstrução de casas. Porque pode haver emprego, mas sem parque habitacional nada se faz. Este é o grande desígnio que está definido.
E depois criar qualidade de vida num eixo da promoção, que pretendemos lançar no futuro, que é “Tábua tem Tempo”, que pretende dizer que o nosso concelho tem tempo para tudo: tempo para trabalhar, tempo para cuidar dos filhos, para se divertir, para ver um bom filme. Temos feito uma forte aposta na Cultura e na Educação e, portanto, este é um desígnio da Câmara que é aumentar a qualidade de vida dos seus munícipes.
Neste objetivo destaco a Educação, onde se insere a descentralização de competências por parte do Governo, com os constrangimentos que daí advêm. A proximidade eleva a uma maior pressão para que as coisas sejam concluídas e há processos e questões muito antigas que têm que ser rapidamente resolvidas, a população assim o exige. Mas, não são acompanhados do envelope financeiro que vem da tutela e temos que ir gerindo com alguma calma, mas sobretudo com muita vontade de fazer mais e melhor.
NT- Neste momento qual é o valor de investimento em obras a decorrer no concelho?
RC – Ronda os 2,5 milhões de Euros o investimento em obras que ainda estão em curso e outras a finalizar. Mas, neste momento, o problema que está em cima da mesa é o das obras que vão parar e as que ficam vazias. Temos um conjunto de alcatroamentos já sinalizados e entregues e estamos a realizar reuniões diárias e constantes com os empresários, tendo em consideração a subida dos preços dos materiais. Esta é uma dificuldade que os municípios estão a ter porque as obras estão a ficar mais caras com a revisão de preços.
O outro problema é o de que já começamos a ter obras vazias. São obras a que as empresas não concorrerem. Tínhamos já lançado co financiamento para uma Oficina de Artes de Palco para potencializar a aldeia de Percelada, porque tem tradição de teatro. Era mais uma maneira de fixar as pessoas e de incentivar os jovens que lá vivem. Efetivamente, também ficou deserto o concurso.
Estes são os problemas que estamos a ter. Apesar de estarmos a lançar obras e de termos sinalização e financiamento para as mesmas, corremos o risco de não as concretizar e de virmos a perder o seu financiamento. Isso preocupa-nos.
Aquilo que tem corrido bem, é a obra de Vale de Gaios que conseguimos e será uma realidade. E estamos, também, a fazer uma aposta naquilo que é a prevenção no âmbito do fortalecimento da área do pelouro da Proteção Civil, por via das limpezas florestais e também com a implementação de uma torre de vigilância, que permite um raio de ação para a prevenção de fogos. Vamos também implementar o futuro Centro Municipal de Proteção Civil, que queremos que seja inserido no Centro Logístico Municipal, em que iremos criar umas oficinas, para dotar os nossos trabalhadores de mais condições.
NT – A Câmara de Tábua é conhecida como tendo prazos algo dilatados no pagamento a fornecedores. Como é que espera resolver este problema no curto prazo?
RC – Queremos sempre falar verdade aos tabuenses e ser transparentes. Portanto, assumirmos o problema, enfrentá-lo e divulgá-lo. Temos um problema, temos que encontrar soluções. Temos um problema que, em paralelo, não pode beliscar este grau de investimento, porque sempre assim foi e sempre assim será. Temos é que ir resolvendo e controlando. A estratégia será definida num primeiro ano e segundo anos. Neste mandato será bem definida a estratégia de resolução do problema. Depois, temos que ir resolvendo a pouco e pouco, sabendo que para resolvermos as questões do passado, as financeiras, temos que ter comportamentos, no presente e no futuro, que nos possam não prejudicar em termos daquilo que é a consolidação das contas. É esse o nosso compromisso.
Para temos rigor financeiro, também temos que mudar comportamentos e um dos comportamentos que, este ano, iremos assumir e já está definido é de que não iremos fazer as festividades. Iremos deixar dois ou três eventos da programação cultural que temos, porque achamos que ainda não é o momento. Aqui também pesa a situação da guerra da Ucrânia e nomeadamente do Covid, porque achamos que as nossas festividades marcam a diferença, se vivermos todos de forma tranquila e livre.
NT- Espera já reduzir o prazo de pagamento a fornecedores?
RC – Sim. Estamos já a fazer um levantamento de todas as necessidades. Está a demorar um pouco mais de tempo do que estaríamos à espera. Já chegámos a acordo com alguns fornecedores, no âmbito daquilo que são os acordos de pagamento. Estamos a fazer uma reestruturação bastante forte, para que possamos não ser só um município com muita qualidade de vida, mas também ser um município de contas em dia, de rigor financeiro e de cabeça levantada, pelo que os nossos compromissos terão que ser obviamente honrados.
NT- Qual é a área que, neste momento, mais o preocupa e que espera ver resolvido?
RC- Temos vantagem de ter um executivo que já estava por dentro das matérias. Os dois novos elementos também são pessoas com experiência na vida autárquica e na vida da função pública, o que é uma mais valia.
Aquilo que me preocupa, para além do rigor financeiro e da estratégia que estamos a fazer, são dois níveis. Um dos níveis é nas freguesias. Diremos que a partir destes seis meses, estamos em condições de fazer uma presidência aberta, onde iremos passar pelas juntas de freguesia, com agenda própria, onde as reuniões irão ser descentralizadas tanto da Câmara como da Assembleia Municipal, visando uma maior proximidade. Estamos agora, até ao final do mês de junho, a definir a estratégia para que a delegação de competências seja uma realidade nas juntas de freguesia, dando mais autonomia e mais rigor e proximidade aos tabuenses e aos seus fregueses. Apostámos já, e somos dos poucos concelhos que temos, em espaços do cidadão em todas as freguesias/ uniões de freguesias, em que já assinámos o protocolo com a Agência para a Modernização Administrativa. Estamos também a preparar aquilo que é o Espaço do Cidadão Móvel, para ir a algumas localidades. Neste âmbito, também se insere um projeto que já foi implementado por este executivo, o SitFlex, que permite que as pessoas se possam deslocar a Tábua, em horários diferentes, suprimindo de alguma forma as reduções das redes ou da oferta rodoviária e de mobilidade existente neste concelho.
NT – Como é que avalia a capacidade empresarial e produtiva do concelho. Há muito a ideia de que Tábua são os Aquinos e toda a sua capacidade produtiva está concentrada naquela indústria. É assim ou Tábua é muito mais do que esta empresa?
RC – É muito mais. Eu considero que os Aquinos já não são de Tábua. São de Tábua, da região, são do mundo. Porque, efetivamente, uma unidade daquelas, e um grande bem haja aos empresários que estão à frente da mesma, é uma empresa, um grupo que nos dá uma forte alavancagem a nível económico no nosso concelho e uma projeção de Tábua além fronteiras. Mas Tábua é mais que isso. A cada dia que passa, estamos a ver algumas obras e algumas empresas a fixar-se na nossa Zona Industrial. E, portanto, se temos uma Zona Industrial de Espariz e Sinde que está definida em termos daquilo que são os Aquinos, temos também já a nossa Zona Industrial de Tábua que está numa segunda fase de crescimento. Estamos já a fazer contactos para comprar mais terreno, porque temos empresas que se querem fixar lá. Em paralelo, temos também a área empresarial da Carapinha, em que além das empresas que lá estão, tem já muitos interessados para o alargamento das próprias empresas e de nova fixação.
NT- De que forma é que o Município está ao lado das pessoas, numa situação em que nos encontramos. Saímos de uma pandemia, entrámos numa guerra, com o consequente aumento do custo de vida. Onde é que está o lado social do Município num momento como o que atravessamos de grande instabilidade e vulnerabilidade?
RC – Num primeiro nível, a solidariedade demonstrada pelo Município de Tábua para com o povo ucraniano, cidadãos do mundo. Fizemos as coisas como achámos que deveríamos fazer que era de ligação com o Alto Comissariado das Migrações e, para isso, criámos o CLAIM, que é o Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes e é nesse sentido que estamos a trabalhar em colaboração com a Ação Social.
Desde a primeira hora, criámos uma rede de contactos que nos permitem apoiar aquele pequeno grupo de cidadãos ucranianos que tínhamos no nosso concelho e que vão buscar os seus familiares, em que esses já estão automaticamente integrados e estão na casa de familiares. O Município fez parcerias no sentido de, seja com envelope financeiro, seja com outros apoios, permitir que a viagem decorresse em conformidade e que agora, com eles cá, fossem ativados todos os mecanismos como a saúde e coisas que, às vezes não se percebem, e não são, digamos assim, palpáveis a nível pecuniário. Neste momento temos 30. Uma das nossas preocupações não é colocá-los dentro de um pavilhão ou de uma unidade, porque isso ao final de 15 dias começa não só a ser um problema para quem os acolhe, mas também para eles. A nossa ideia foi criar condições específicas para que eles possam, numa primeira fase, ter estabilidade emocional, acompanhamento psicológico, acompanhamento de saúde e de integração no futuro. Criámos parcerias e agradecemos às entidades, seja a Santa Casa da Misericórdia de Tábua, o Grupo Desportivo Tourizense, a Fundação Sarah Beirão, uma ou outra Junta que disponibilizaram as suas habitações que foram tratadas e agora estão disponíveis para receber ainda mais ucranianos. O objetivo, numa segunda fase, é que as pessoas possam ser integradas, se assim for a vontade dos mesmos, na nossa sociedade.
Também temos uma política interna, que não é uma política de cheque passado, mas é de disponibilização de serviços. O cidadão tabuense seja o mais rico, seja o mais pobre, pode tirar proveito das atividades de enriquecimento. É um serviço de qualidade, sem que os pais tenham que gastar dinheiro. É um contributo também na alimentação, mediante os escalões. Depois, temos também uma oferta de serviços, quase todos tendencialmente gratuitos que permitem que, haja ou não haja mais dificuldades financeiras, eles não deixem de frequentar alguns serviços, porque a falta de dinheiro dos pais pode ser uma realidade.