Na queijaria dos Melos, em Vila Nova de Oliveirinha, há muito que a produção de queijo deu lugar exclusivamente ao fabrico de requeijão. A laborar desde 1994, há vários anos que a queijaria deixou de produzir queijo de ovelha, para se dedicar em exclusivo à produção do famoso requeijão de ovelha.
Com tradição familiar na venda de queijo, Vitor Melo e o irmão, são o rosto da nova geração da empresa que conta ainda com a ajuda do pai. “Com o falecimento da minha mãe tivemos de nos readaptar, porque era ela que fazia o queijo e o requeijão, e apostámos neste nicho de mercado” explica o produtor, garantindo que há cada vez mais clientes a procurar este tipo de iguarias mais “artesanais”.
” Hoje temos de procurar cada vez mais nichos de mercado para crescermos e criarmos alguma estabilidade, nós sabemos que há muitas pequenas queijarias artesanais que fecharam precisamente porque são insustentáveis, com pequenas produções” afirma o empresário que se especializou no fabrico de requeijão em modo artesanal, sendo hoje um dos principais produtores locais, com uma produção média de quatro mil requeijões por semana.
Vitor Melo entende que a falta de valorização do queijo Serra da Estrela, foi um dos fatores que levou muitos pequenos produtores a abandonarem a atividade ou a transformarem as suas explorações, como foi o caso da queijaria da família que sobreviveu porque fez “uma opção” , porque ” senão teríamos fechado como aconteceu a muitas outras por aí” . Por outro lado, o empresário explica que o fabrico de queijo requer “muito mais acompanhamento, desde a recolha do leite até à venda, do que o requeijão”, que “é de fabrico mais imediato”.
Vítor Melo conta que “o segredo” foi durante muito tempo trabalhado pela mãe, que apurou a receita com a “sua paciência”, de forma a ter as características que tem hoje e que faz deste requeijão uma das maravilhas gastronómicas da região. “É macio e o mais natural possível, sem aditivos nenhuns , é feito só com o soro do leite e sal ” refere o empresário, dizendo ter a sorte de ter na queijaria quem tenha as mãos parecidas com as da mãe, entretanto falecida. A qualidade do leite é, aliás, uma das grandes preocupações da queijaria da família Melo, que compra preferencialmente a matéria prima na região. “Não lhe misturamos nada, tanto na conservação, como na transformação, e isso requer muito acompanhamento na aquisição desse soro porque senão, o produto final fica totalmente diferente”, conta o produtor, que lamenta a escassez cada vez maior de leite de ovelha na região e a falta de incentivos à pastorícia, que faz com que muitos dos rebanhos vão acabando. “Desde os incêndios então isto caiu a pique, muitos pequenos pastores a quem comprávamos o leite acabaram, porque não tiveram apoios” lamenta, lembrando que o efetivo animal é cada vez menor, aumentando a dependência de “grandes produtores estrangeiros que não conhecemos a qualidade”. “Olhamos para um papel com as análises, e não conseguimos ver mais nada”, considera, vendo com preocupação o futuro da produção artesanal, que diz só ser lembrada quando “existem feiras”.