Percelada viveu ontem um dia histórico, com a inauguração da Oficina de Artes de Palco, na antiga escola primária da localidade. Um investimento de 380 mil euros, comparticipado em 142 mil pela ADIBER- Associação de Desenvolvimento da Beira Serra, que foi o culminar de um longo processo e o concretizar de um sonho antigo da comunidade, com uma tradição há muito ligada aos palcos, nomeadamente ao teatro.
Inserida no programa comemorativo do Feriado Municipal de Tábua, a abertura da nova casa da cultura contou, por isso, com a presença de muitos populares que, ao longo dos anos, ajudaram a dinamizar o teatro e as artes da representação, com destaque para a figura incontornável de Odete Claro, que apesar da idade avançada nunca desistiu do sonho de pisar novos palcos na terra que adotou há mais de 25 anos.
O seu trabalho e empenho em prol do desenvolvimento das artes de palco em Percelada foi ontem reconhecido pelo Município de Tábua, que atribuiu ao novo auditório o nome de Odete Claro, homenageando-a ainda com a colocação de um retrato a óleo, na entrada principal do equipamento.
Um dia feliz para Odete Claro e para Percelada, evidenciado pelo presidente da Câmara Municipal, Ricardo Cruz, que incluiu este investimento naquilo que é a “política de descentralização da cultura” do seu executivo. “Nós não conseguiríamos dar este passo, se não tivéssemos aqui este montante que nos permitisse dar um passo mais à frente”, lembrou, ainda assim, o edil, referindo-se ao financiamento da ADIBER, em 142 mil euros.
“O Município podia ter pegado nesta verba e investido noutras matérias”, observou Ricardo Cruz, que fez questão de honrar um “compromisso” que tinha não só com esta União de Freguesias, mas também com “a D. Odete, com a Comissão de Melhoramentos, com a Associação, e com todos aqueles que inúmeras vezes pisaram aquele palco da Associação”. E por isso “a verba que aqui gastámos é um investimento, não é um custo”, concluiu o presidente do Município, abrindo novamente as portas de Percelada ao “mundo do teatro”.
Um espaço ontem admirado por todos e que só viu a luz do dia graças à “persistência” do presidente da Câmara, referiu Miguel Ventura, presidente da ADIBER, para quem o autarca “nunca desistiu” de levar por diante este projeto, pese embora a dificuldade em “responder às exigências todas destes programas”.
“Foi sem dúvida devido ao querer e à necessidade que este equipamento tinha para este território que a obra nasceu e que hoje estamos todos aqui a celebrar este momento”, afirmou aquele responsável não tendo dúvidas que “o Município de Tábua ao concretizar este investimento, com esta qualidade que estamos a vivenciar aqui, vem dignificar e engrandecer a intervenção do PDR na região da Beira Serra”.
“O senhor presidente pode ficar hoje com esse orgulho, de demonstrar a importância que este programas de desenvolvimento rural têm para estes territórios, porque desenvolvimento rural não é só agricultura, não é só produtos locais de qualidade, desenvolvimento rural é fazer com que haja dinâmica nestes territórios”, fez notar Miguel Ventura.
A partilhar a “alegria” de inaugurar este equipamento cultural na sua freguesia, seguida de uma outra inauguração, que teve lugar durante manhã, em Balocas, do novo Sistema de Tratamento de Águas Residuais, o presidente da União de Freguesias de Covas e Vila Nova de Oliveirinha, João Nuno Brito, afirmou que este é “o verdadeiro exemplo” do que é o investimento público e “a recuperação de um património que estava degradado e que não estava a ser aproveitado pela comunidade”.
“Em boa hora o senhor presidente (da Câmara) quis apostar, e posso dizer que é quase uma aposta pessoal, e insistiu bastante para que esta candidatura tivesse sucesso e não desistiu à primeira contrariedade”, fez saber o autarca, acreditando que este equipamento, da forma como se encontra recuperado, “vai mexer não só com a comunidade de Percelada, e da União de Freguesias, mas com todo o concelho de Tábua”.
“Esta é uma sala de excelência que vai ser, com certeza, um complemento de excelência para o Centro Cultural de Tábua, para a Biblioteca Municipal, e para o CULTIVA”, observou o presidente da União de Freguesias, que agradeceu a “dedicação inexcedível” de Odete Claro, que mesmo não tendo as atuais condições, trabalhou em prol do desenvolvimento do teatro e da cultura em Percelada.
Emocionada, Odete Claro,agradeceu “a bonita homenagem” e recordou o seu percurso, desde que há 25 anos se mudou de “malas e bagagens” para Percelada. Filha de um pai que nunca a autorizou a ser “artista” nem a pisar os palcos, o sonho que estava adiado veio a concretizar-se em Percelada, onde há quase três décadas, “contra todas as probabilidades” escreveu, ensaiou e apresentou juntamente com outras pessoas da terra, inúmeras peças de teatro, partilhando esta arte com “muita gente que nunca tinha entrado numa sala de espectáculos na vida”.
“Formámos atrizes, formámos atores, público, sempre com tão poucos meios e tão parcas condições, mas com uma generosidade tremenda de todos os envolvidos, dos mais jovens aos mais velhos, vi crescer em muitos o amor pelo teatro, o mesmo que eu sentia em miúda, e que continuo a sentir, e este terá sido o ponto alto da minha carreira de artista”, recordou, com a voz embargada de emoção, por agora ver “voar mais alto o sonho que veio cumprir a Percelada”.
“Com estas Oficinas de Artes de Palco passamos a ter um espaço digno e condições de trabalho como nunca tivemos antes” e “podemos continuar a fazer crescer sonho nos mais novos que queiram aprender a fazer teatro”, afirmou, fazendo votos para os que vierem a seguir saibam “manter o teatro vivo no concelho de Tábua”.