É a quarta geração da Quinta do Cruzeiro, em Várzea de Candosa, Tábua, e aquela que veio para “transformar” a imagem dos vinhos produzidos pela família. Filho mais novo do proprietário já falecido, Carlos Gomes é agora o rosto dos vinhos Donnaires e o responsável pela mudança na estratégia de produção e comercialização da marca.
Foi durante a pandemia que o jovem engenheiro industrial e a companheira de “aventuras”, Mariana, decidiram “parar” em Várzea de Candosa, num Dão “diferente” mas não menos promissor no setor vitivinícola, e abraçar “a tempo inteiro” aquele que já era um projeto do pai, Carlos Gomes, desde 2005.
“Em 2020 viemos para cá, abdicando da nossa vida em Lisboa, e começo a dedicar-me quase exclusivamente à quinta. É o nosso bebé covid” conta, com alguma ironia, para explicar este regresso às origens e a vontade de manter viva a vinha e a marca Donnaires, como forma de “homenagear o pai”.
“Entre agosto de 2020 e Novembro de 2021 estivemos aqui sempre e isso fez com que nos apaixonássemos ainda mais pela quinta e ao mesmo tempo sempre com esse sentido de homenagem ao pai”, garante Carlos Gomes, focado agora em melhorar a imagem e a qualidade dos néctares produzidos na propriedade com apenas dois hectares de vinha.
“Somos um pequeno, pequeno, produtor do Dão, onde damos palco à uva”, adianta o jovem produtor que quer manter a mesma linha “minimalista” na adega e pouco “intervencionista” na vinha, tentando ser “pouco evasivo em termos de intervenções fito-farmacêuticas”. “Aqui a atenção que damos à uva é maior, acabamos por fazer um tratamento mais personalizado, podemos vir aqui falar com elas (uvas) e reconhecê-las na vindima”, refere, julgando que esta “exclusividade” é aquilo que começa por distinguir os vinhos Donnaires. “Não é preciso termos muita quantidade de cada vinho para fazermos coisas com qualidade, optamos por uma linha experimentalista para mostrar ao mundo o que se pode fazer com a mesma uva”, explica o produtor, garantindo que a “honestidade” é uma das grandes características dos Donnaires. “São vinhos honestos, nós não adulteramos, nem fazemos nenhum tratamento drástico para fazer o nosso vinho, privilegiamos o que temos e as uvas que a terra nos dá”, sublinha, somando a esta “simplicidade” a “elegância e acidez vibrante” comum à região do Dão.
“Queremos mostrar ao mundo o verdadeiro vinho do Dão desta zona (de Tábua) que tem um terroir muito próprio”, diz, apostado em acrescentar mais variedade de uva, sobretudo uva branca, recuperando assim parte da vinha ardida no grande incêndio de 2017. “Gostaríamos de aumentar a área de vinha, um hectare, um hectare e meio, mas não é fácil, porque as pessoas ou não vendem ou têm as propriedades indivisas e é muito difícil comprar”, faz notar o jovem vitivinicultor, que fez renascer a marca Donnaires, depois do falecimento do pai em 2019, apostando numa nova imagem “igualmente minimalista”, mas mais focada no mercado e no consumidor.
“Começámos a aparecer mais”, garante Carlos Gomes, que quer continuar a reforçar a presença em certames e feiras do setor, certo de que quem beber do seu vinho, partilhará para sempre um pouco da memória e da tradição familiar.