Rodrigo Sousa integrou, no passado mês de junho, uma força especial de Portugal, composta por cerca de 140 operacionais, que viajou até ao Canadá para apoiar o combate aos grandes incêndios que fustigaram aquele país.
Fê-lo com o sentido de missão de sempre. Porque uma vez bombeiro “temos de estar sempre preparados para o que der e vier, seja no nosso país, seja no estrangeiro” diz ao Notícias de Tábua, o ainda jovem soldado da paz, de 25 anos, sete dos quais ao serviço dos Bombeiros Voluntários de Tábua.
O fogo, esse que agora combate, foi o que o trouxe em 2017 para os Bombeiros Voluntários. “Desde pequeno que sentia uma atração pelos incêndios, aquilo era o que me fascinava”, conta ao nosso jornal, lembrando que nesse ano teve logo a sua primeira prova de “fogo”: o grande incêndio de 15 de Outubro, que acabaria por consumir grande parte da área florestal da região.
“Eu ainda era bombeiro estagiário e foi logo um grande desafio”, recorda Rodrigo Sousa que, sete anos, depois conseguiu concretizar “algo que qualquer bombeiro ambiciona e que é o topo” . Foi o primeiro bombeiro do concelho e da sua corporação (BVT) a integrar uma missão internacional como aquela que integrou no passado mês de junho ao Canadá.
“Eu sei de pessoas que já estavam à espera de uma oportunidade destas há vários anos e outros que entram nos Bombeiros jovens e acabam a carreira sem conseguir isto. Daí ter sido um orgulho representar Tábua e a minha corporação – os Bombeiros Voluntários de Tábua”, garante.
A sua força esteve estacionada na província de Quebec, e tinha como missão “salvar” das chamas uma pequena cidade que estava ameaçada com o perigo de explosão de uma refinaria nas redondezas. “ Era uma pequena cidade que foi toda evacuada e a nossa missão era proteger as casas e uma fábrica de combustíveis que se explodisse destruía por completo a cidade”, conta o bombeiro, explicando que a realidade que foi encontrar foi completamente diferente, com o combate a fazer-se essencialmente apeado, com ferramentas manuais, e sem apoio de viaturas e água.
“O nosso trabalho era de sapador: abate de árvores e fazer faixas de contenção”, explicou, referindo que “os primeiros dias foram complicados, até mentalmente, porque nós estamos preparados para combater de uma forma e chegamos lá e é de outra forma totalmente diferente do que estamos habituados”, não esconde, dando nota da dimensão, também ela diferente, das ocorrências em Portugal.
“Havia vários incêndios, só o incêndio onde eu estava já tinha 500 mil hectares ardidos, é uma coisa astronómica, são muitos países como Portugal, não é comparável”, diz, constatando ainda assim que “a velocidade de propagação é muito mais lenta”. “Os terrenos têm muita manta morta, são terrenos muito húmidos, até pantanosos, o que faz com que o incêndio comparativamente aos nossos não ganhem tanta velocidade. Aquilo arde com muita intensidade verticalmente desde o solo até às copas das árvores, mas em velocidade de propagação, propaga-se lentamente”, explica o bombeiro tabuense, garantindo nunca se ter sentido “inseguro” ou em “risco”.
Apesar de lutar contra o desconhecido, “o trabalho deles baseia-se a 100% na segurança, não facilitam, nós aqui arriscamos mais um pouco, e nesse aspeto sentimo-nos sempre seguros”, considera, julgando que “apesar da dimensão gigantesca dos incêndios, estar num terreno de operações aqui acaba por ser mais assustador do que lá, porque lá não se arrisca nada”, relata Rodrigo, não tendo dúvidas que esta foi uma “experiência enriquecedora, como combate, como segurança”, e que “se houvesse amanhã um novo desafio destes, acho que não dizia que não, quem diz eu, diz qualquer um bombeiro”, observa.
Ao fim de 10 dias no meio da floresta, Rodrigo Sousa orgulha-se também de ter contribuído, com a força que integrou, para “salvar a cidade”. “Era uma pequena cidade, nós nunca estivemos lá com os habitantes, estavam só os serviços mínimos. E ficou em segurança com faixas de contenção e o que nos ajudou foi no último dia chover, já não chovia há algum tempo”, conta o bombeiro profissional que em sete anos ao serviço dos BVT, “nunca tinha presenciado um realidade desta dimensão”, nem em 2017, onde já pensava ter visto o pior.
A integrar desde outubro de 2022, a segunda Equipa de Intervenção Permanente dos BVT, Rodrigo Sousa não deixa de agradecer à Direção e Comando a oportunidade que lhe deram de integrar esta missão, porque “havia outros homens e mulheres com preparação e formação”, diz, agradecendo igualmente a todo o corpo ativo e à família que o acompanha sempre nos novos desafios. “Sem eles não iria tão longe”, reconhece, com o sentimento de missão cumprida.