No “berço” da Tábua de Queijos e Sabores da Beira, na freguesia de Midões, onde há 35 anos nasceu a primeira feira do queijo, Paulo e Natália Soares mantêm viva uma tradição ancestral e que lhes corre nas veias, desde muito cedo, por via familiar.
Com uma exploração de ovinos com 200 cabeças de gado, o casal decidiu, em 2020, mudar de vida e trocar o talho que tinha em Tábua, pela pastorícia, pois apesar de ser uma vida “difícil” que não tem fins de semana, nem feriados, não têm dúvidas que acaba por compensar.
“É muito mais saudável, temos tudo aqui à porta de casa”, refere Natália, que herdou da mãe e da avó o gosto pelas ovelhas. “A minha mãe e a minha avó já tinham ovelhas e faziam queijo”, conta, enquanto nos explica que a queijaria é um passo que para já está fora dos planos da exploração.
“Se alguns dos nossos filhos quiser dar esse passo no futuro teria todo o gosto, mas para mim e para a Natália está fora de questão”, dizem, apesar de representarem uma nova geração de pastores/produtores de leite na região da Serra da Estrela, que nos últimos anos tem assistido ao fim de muitas explorações, por não haver quem queira dar continuidade à atividade.
A contrariar esta tendência, Paulo Soares e a mulher dedicam-se agora a tempo inteiro à ovinicultura, nomeadamente à produção de leite e animais vivos, com uma produção média de 1500 litros de leite por semana que escoam na totalidade para as fábricas de lacticínios da região.
“Escolhi esta vida porque gosto dos animais”, confessa o produtor, que apesar de reconhecer que esta não é uma profissão que atraia muito os mais novos hoje em dia, “é melhor do que estar fechado numa fábrica”. “É uma vida presa, mas ao mesmo tempo andamos ao ar livre, temos ar puro”, refere a mulher, Natália, que já não se via a trabalhar num sitio fechado.
Na exploração, a maior parte do dia é passada entre os pastos verdejantes que rodeiam a propriedade e o ovil, onde é feita a ordenha com todas as condições de higiene e segurança para os animais. “ Temos consciência que isto é que faz a diferença na qualidade do leite”, fazem notar, garantindo que o bem estar dos animais, a qualidade da alimentação e a higiene são preocupações diárias de sua produção.
Se depois a indústria paga o preço justo, Paulo Soares entende que não, e que é preciso fazer ver que “a qualidade tem um custo” que não pode continuar a ser suportado só pelos pastores, caso contrário, são cada vez menos os que querem vir para o sector, assegura o casal de produtores de Midões, onde a tradição ligada à pastorícia ainda se mantém, 35 anos depois da primeira feira do queijo.