Despertou cedo para a música. Aos oito anos, Orlando Gabriel ou simplesmente Gabriell de nome artístico, já acompanhava o avô na concertina, nas arruadas pelas festas da sua aldeia, em Pomares, no concelho de Arganil, com o sonho de um dia poder vir a cantar pelo mundo. O sonho comandou a vida, e aos 14 anos tinha já um grupo de baile, que atuava nas festas da região.
“Aos 8, 10 anos nós sonhamos muito e eu na altura sonhava poder vir a viver da música e aparecer na televisão”, conta ao Notícias de Tábua, na sua casa em Candosa, onde além da música, tem também a sede do seu grupo de empresas, em áreas tão distintas como a construção civil, florestas e na área das limpezas. Apesar de ainda muito jovem, conciliou sempre o trabalho na construção civil com o gosto pela música, e gravou o seu primeiro disco em 2012/2013.
O “bichinho” estava-lhe no sangue e decide convidar, já na altura, o mais popular dos artistas pimbas portugueses – o Quim Barreiros, a vir ao lançamento do seu trabalho, em Pomares. “Andei seis, sete meses a trabalhar para pagar ao Quim Barreiros que já tinha um caché bastante alto, e quando chegou ao fim, ele só quis metade, porque viu o sacrifício que eu estava a fazer para alcançar mais alguma coisa”, recorda Gabriell, que com a receita desse espetáculo conseguiu gravar um segundo CD e ganhar um “bom amigo” que acabaria por servir de rampa de lançamento da sua carreira. “Tenho um grande respeito por esse grande senhor da música que, na minha maneira de ver, acho que é um ícone, não há ninguém idêntico. Ele ajudou-me na altura, foi uma boa influência e a partir daí as coisas começaram a surgir, comecei a ser convidado para ir à televisão”, revela o cantor que, pouco tempo depois, estava a lançar um novo álbum “a Fada” que o levou a percorrer “praticamente o mundo inteiro”.
Desde a Europa- Bélgica, Luxemburgo, França, Suíça, às ilhas dos Açores e Madeira, passando pelo Canadá, Gabriell realizava finalmente o sonho de miúdo e vivia exclusivamente da música. “Foi uma fase muito boa” conta o artista, que tal como todos os outros no mundo do espetáculo, se viram forçados a uma paragem em 2020 e 2021, motivada pela pandemia de Covid-19. A música e os palcos ficaram suspensos, mas a vida de Gabriell não. Arregaçou as mangas e aproveitou para fazer crescer as outras empresas que já tinha iniciado e que gere, em conjunto com a mulher, Paula, que o acompanha também nos espetáculos, como bailarina. “Graças a Deus continuei sempre a trabalhar e cá estamos agora em força”, diz, prestes a concluir o seu novo disco que conta apresentar no inicio de 2023, um ano que tem tudo para ser o melhor de sempre, diz. “Estamos já com a agenda bastante preenchida para o verão e temos novamente uma tour marcada para a América, para Nova York, onde vamos regressar em Fevereiro, e é isto que nos faz acreditar que vale a pena continuar a trabalhar e com foco naquilo que gostamos” conta o cantor, que cedo começou a perceber o seu gosto pela música popular.
“Lembro-me quando era miúdo de ir com o meu pai, às 5h/6h da manhã, porque ele tinha um talho na Barroca Grande, nas Minas da Panasqueira, e ouvíamos muito Quim Barreiros, Jorge Ferreira, José Malhoa, e nós, quer queiramos quer não, acabamos por seguir um bocadinho aquilo que ouvimos”, recorda, apesar de no seu reportório ter também algumas baladas, apontando para um dos últimos temas o “Obrigado” , que tem sido um grande “êxito” e que “canta ao piano por quase todos os espetáculos por onde passa”. E são muitos. Passou já por quase todos os grandes eventos e feiras da região, mas também de norte a sul do país são vários os palcos que já pisou. “Sou um privilegiado”, confessa o cantor, que faz aquilo que “realmente gosta”, acompanhado de quem mais gosta: a família, a mulher e também os filhos que sempre que podem fazem parte do espetáculo. “É sempre uma grande responsabilidade principalmente quando tens milhares de pessoas à frente, mas a partir do momento em que entras em palco as coisas acontecem com naturalidade”, refere o artista, considerando-se “um sortudo” por ter “tanta gente que gosta do Gabriell”. “Aconteceu este ano ainda, tenho tido sempre casas a abarrotar, por todo o lado”. “Tenho a sorte de fazer aquilo que gosto e das pessoas gostarem de mim e o grande segredo é esse, e depois as coisas acabam por acontecer com muita naturalidade ”, diz com a humildade que o caracteriza, mas com a noção clara de que esta “sorte” deu “muito trabalho”.
“Quando comecei, eu lembrou-me de ir para França sem saber se tinha dinheiro para vir para Portugal, ía vender CD´s às associações, ia à sexta e regressava ao domingo, porque segunda já tinha de estar a trabalhar, claro que eu também fiz para que as coisas acontecessem”, recorda o percurso onde, sorte e trabalho, se cruzaram sempre na dose certa. “Também caí numa boa editora – a Vidisco, que é uma das melhores a nível nacional, que sempre me ajudou na gravação dos discos e na promoção dos meus espetáculos, e hoje a minha vida é que não me permite estar todos os dias na televisão, senão estaria lá , porque tenho sido convidado muita vez, mas derivado ao trabalho com as outras empresas, nem sempre tenho muita disponibilidade”, confessa, empenhado ano após ano em imprimir novidades aos seus espetáculos, e em “olear” a sua “máquina” porque “as pessoas que estão a pagar merecem ter um bom concerto, merecem esse respeito”. “Sou muito exigente quer com os músicos, quer com as bailarinas, nós trabalhamos muito, ensaiamos muito, porque isto não é só o Gabriell, há sempre um grande trabalho por detrás de cada espetáculo”, refere, a preparar já o novo disco e a próxima tour que promete regressar com uma produção totalmente nova.
“Trabalhei muito, passei por muitas dificuldades, não tenho vergonha nenhuma em dizer por aquilo que passei, porque os meus pais eram pobres, não me podiam dar dinheiro, e eu trabalhei muito para conseguir o que tenho hoje. Não sou rico, não sou milionário, mas tenho uma vida desafogada, e isso deixa-me muito orgulhoso, por a minha conquista e por dizer que posso trazer o meu filho na universidade”, diz ao Notícias de Tábua, acreditando que “é do trabalho que tudo vem, seja na música, seja em que área for”. “Se nós nos agarrarmos as coisas acontecem, e foi o que aconteceu comigo”, diz, visivelmente emocionado, a concluir a nossa conversa sobre o “sonho” de criança que se tornou realidade…