A Broa do Morgado, produzida em Mouronho, no concelho de Tábua volta a ter lugar de destaque na Tábua de Queijos e Sabores da Beira, pela mão de Cristina Nunes que, com o marido e ajuda dos três filhos, também leva ao certame a famosa Triga-Milho, o pão de Centeio e o delicioso Folar cozido em forno de lenha, numa folha de couve.
Quem já provou sabe que a Broa do Morgado se distingue da habitual. “Esta é feita à moda antiga. Só leva farinha, água, fermento e sal. Não leva mais produtos nenhuns. É tudo feito ao natural e a broa é cozida em forno de lenha, com tijoleira. Não há cá queimadores”, assim garante a conhecida padeira, que desde 2003, tem granjeado a confiança dos clientes que se mantêm fiéis.
No modo de preparação da broa “não há nenhum segredo”, a não ser o de fazer tudo como outrora se fazia, com “menos sal e menos fermento”. A massa “tem que estar a levedar uma hora, sejam 100 quilos ou menos”, e depois deve cozer no forno a lenha “lentamente”. O forno “faz toda a diferença” e confere um melhor sabor. “Acho que é a lenha, o fumo e a cinza”, refere.
A Broa do Morgado é muito procurada na região, mas tem venda restrita a Tábua, Arganil e a uma parte de S. Martinho da Cortiça, em supermercados e restaurantes. Um importante ponto de venda é o Mercado de Tábua, onde Cristina marca presença todos os domingos com a broa, a triga-milha e o centeio cozido de madrugada. E são muitas as pessoas, incluindo residentes estrangeiros, que ali acorrem para comprar o pão. “Há muita gente a aviar-se para a semana toda”, verifica Cristina Nunes, já habituada aos elogios dos seus clientes. “Um dia recebi um telefonema de uma senhora a dar os parabéns. Disse que nunca tinha comido um pão tão bom”, partilha.
Por esta altura, Cristina dedica-se também aos tradicionais folares de Páscoa, cozidos em cima de uma folha de couve que “protege do excesso de calor da tijoleira e fica com um formato bonito”. A receita já era da sua avó.
O Folar do Morgado é também muito procurado na Tábua de Queijos e Sabores da Beira e Cristina mantém a sua produção até um mês após a Páscoa. “É um produto que não leva corantes, nem conservantes. É um produto ao natural e isso faz uma grande diferença. Sai mais caro, mas o cliente tem que perceber”, faz notar.
Diariamente, Cristina conta com o apoio do marido que, entre outras áreas, é a pessoa responsável por assegurar a lenha necessária para o forno. “Amassamos, cozemos e distribuímos o pão”, refere, contando que também os filhos ajudam nas alturas de mais trabalho. Toda a cadeia de produção é assegurada pelo núcleo familiar e Cristina garante que, por isso, é que o projeto tem vingado, porque “se tivesse empregados já tinha desistido”.
Em tempos modernos, “ninguém quer este trabalho, sair daqui a cheirar a fumo e cheia de pó”. “Se não fosse a nossa vontade não estávamos cá. As exigências são muitas”, refere a mulher que se recusa a fazer cedências no modo de produção tradicional. Avisa mesmo que deixa de trabalhar no dia em que lhe disserem que não pode usar forno de lenha. “Para usar fornos elétricos estão as outras padarias. Tenho padeiros de outras padarias que me compram pão para casa. É porque eles veem a diferença”, sublinha.
O mesmo acontece no que respeita ao Folar. “No dia em que me disserem que não posso usar ovos eu não faço mais folares. O ovo natural é o que vem da galinha e toca a partir. Sempre gostei dos produtos naturais e regionais e é isso que nos motiva”.
Cristina não é oriunda de família de padeiros, mas foi funcionária da padaria que agora lhe pertence. “A Dona decidiu desistir e propôs que eu ficasse com isto. A minha patroa também fazia o mesmo género, mas usava papel nos folares e não couve”, recorda.
Passada a fase crítica da pandemia, em que Cristina chegava ao fim do mês e não conseguia tirar ordenado, o negócio está estável. Mas, ainda recorda os tempos anteriores ao IC6 que desviou muita clientela. “Um restaurante que vendia 80 pães, agora vende oito. Passava aqui gente de fora, que agora passa no IC6 e que já cá não passa”, lamenta.
A preparar a presença da Broa do Morgado na Tábua de Queijos e Sabores da Beira, a conhecida padeira espera, agora, que também a Páscoa “volte a ser aquilo que era”.