Ontem, 30 de abril de 2023, completou 105 anos a D. Austrelina Nunes, natural e residente em Candosa, talvez a pessoa mais idosa do concelho de Tábua.
Vive com a filha, que tendo trabalhado num lar de idosos, agradece os ensinamentos que lá adquiriu para tratar da mãe de forma adequada. A D. Austrelina fragilizada por muitos anos de trabalho duro e pela idade, ainda canta baixinho, incitada pela filha, num cenário de ternura e cumplicidade.
A sua longa vida foi de muito trabalho, com quase 90 anos ainda cultivava o quintal, depois de muitos anos dedicados ao duro trabalho do barro, da agricultura e de cuidar da casa e dos filhos.
Segundo nos relata José Cardoso, presidente da Junta de Freguesia, profundo conhecedor de toda a população e suas vidas, a D. Austrelina e o marido tinham na olaria a sua fonte de rendimento principal, em tempos difíceis como foram os do passado.
Havia uma zona onde iam buscar o barro, abrindo um poço, de início pequeno, mas que tinha que ir sendo aprofundado, abrindo também “minas” dentro desse buraco, tipo poço. Tinham que usar uma escada para subir até à superfície, com pesadas cargas à cabeça de cestas com o barro. Quando estava bom tempo, era extraído e acumulado junto à casa, protegido da chuva. Nos períodos de chuva o trabalho continua, o barro tem que ser completamente limpo de todas as impurezas como areia, que causaria fissuras na peça terminada. Entretanto o marido ia trabalhando no torno, no fabrico de cada recipiente.
Numa altura em que a lenha era um bem precioso e os donos tinham os pinhais sempre limpos, fosse para cozer pão nos fornos de lenha, fosse para aquecimento nas lareiras, era complicado arranjar com que cozer a loiça nos fornos. Muitas vezes tinham que recorrer a uma foice roçadora manual e ir procurar outro tipo de arbustos selvagens para executar essa tarefa. Por fim restava a venda dos artigos e a melhor zona era Tondela. O percurso era feito a pé, com cestas cheias de cântaros, assadores de castanhas e outras peças, à cabeça. Quando tiveram dinheiro para comprar uma burra ou uma mula, facilitava em parte a tarefa, mas também era preciso acompanhar a pé. E quando o cansaço do animal ou deles era muito, era preciso parar, desatrelar a carroça, prender o burro ou a mula a uma árvore e dormir um pouco debaixo da carroça.
Além do barro, era toda a outra vida de cultivar para comer, de cozinhar, limpar a casa, remendar a roupa da família, que faziam parte do dia a dia. Vidas duras de outros tempos, talvez difíceis de imaginar para os mais jovens, mas uma realidade para os mais velhos.
Muito nos contaria a D. Austrelina se a avançada idade o permitisse. Mas toda a gente, a partir de uma certa idade, lembra-se bem de como era.
E é uma ternura ver o carinho de uma filha, totalmente dedicada a realizar todos os desejos e colmatar todas as necessidades da sua mãe, a quem se dedicou, por vezes abdicando da sua vida própria.
A cerimónia de aniversário foi muito singela, a Junta gostaria de oferecer, à semelhança de outros anos, antes da pandemia, um bolo de aniversário, mas a D. Austrelina já não tem força para soprar as velas e decidiram homenagear com um simples ramo de flores, entregue pelo Presidente do Município, Ricardo Cruz, pela vereadora Susana Mendes e pelo Presidente de Junta José Cardoso.